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Aula Escrita #11: Filosofia Contemporânea - Parte 2

Revisão de Filosofia em Texto e Imagens!









“A disciplina é uma técnica de poder que implica uma vigilância perpétua e constante dos indivíduos. Não basta olhá-los às vezes ou ver se o que fizeram é conforme a regra. É preciso vigiá-los durante todo o tempo da atividade de submetê-los a uma perpétua pirâmide de olhares. É assim que no exército aparecem sistemas de graus que vão, sem interrupção, do general chefe até o ínfimo soldado, como também os sistemas de inspeção, revistas, paradas, desfiles, etc., que permitem que cada indivíduo seja observado permanentemente”.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Tradução de Roberto Machado. 17.ed. Rio de Janeiro: Graal, 2002. P. 106.




Jean Paul Sartre (1905-1980)


O Existencialismo



O existencialismo é uma corrente filosófica surgida após a II guerra Mundial, em um contexto de incertezas quanto ao futuro e ao próprio homem. Desse modo, o existencialismo n asce buscando uma resposta so bre o homem, principalmente em relação ao sentido de sua existência. Afinal, o homem tem alguma essência ou é fruto de suas próprias escolhas? Para o existencialismo, não existe ideia de absoluto, isso significa que não há nada além do homem real, sendo que este não possui uma essência que o determine. Desse modo, essa filosofia pensa o homem concreto, que vive e busca um sentido para sua vida. A ideia mais importante do existencialismo é que a existência precede a essência, ou seja, não existe uma essência previamente estabelecida, mas tais essências são criadas posteriormente pelo homem particular, ou seja, o homem é aquilo que ele faz de si mesmo. A realização completa do homem depende se seu esforço pessoal para vencer as limitações naturais que condicionam a sua vida e dar uma direção consciente à própria história e aquilo que ele é. A morte, que antes era encarada como o fim, sinal da finitude e impotência, torna-se agora a geradora da busca por um sentido, torna-se força que leva o homem adiante, uma vez que ele reconhece que não há nada para além do real, como uma vida após a morte. O homem, entendido como ser finito e incompleto, tem somente a sua existência para buscar e realizar aquilo que é fundamental para sua vida.




Sem dúvida, o pensador mais importante do existencialismo é Sartre. Sua filosofia serve como base do existencialismo e serve como fundamento para essa corrente filosófica. Filosofia Sartre afirma que o ser é o que é, não existindo nada além da realidade humana como uma essência ou substância. Além do ser, não há mais nada, ou seja, o ser é o que é em si mesmo. É desta ideia que nasce o título de uma de suas mais importantes obras, O ser e o nada, que significa que para além do ser só há o nada que, por definição, não tem existência. Além disso, este ser é contingente. Não há planos ou destino predefinidos que guiem a vida do homem. Não há uma razão preestabelecida para a existência que diga o porquê do homem existir. Ao contrário, nada existe antes da própria existência real que determine a natureza do homem. Não existindo nada anterior à existência concreta do homem, podemos afirmar que a ideia de essência enquanto definição preexistente é ilusória uma vez que o existencialismo de Sartre dirá que somos resultado de nossas escolhas, ou seja, a existência precede a essência. Cada ser individual tem seu modo subjetivo de exercer sua essência. As essências são atributos que conferimos a posteriori, de acordo com as experiências e reflexões individuais durante a vida. O homem é absolutamente livre para escolhê-la.




O ser humano simplesmente existe e é absolutamente livre para definir-se, entregue portanto à sua própria responsabilidade. Sendo totalmente livre, a ideia de Deus torna- -se absurda e a de criação contraditória, pois se os seres são contingentes, isto é, existem por si mesmos sem qualquer pré-definição, não há seres necessários como Deus, portanto, não pode existir criação. Para o filósofo, o ser humano está condenado a ser livre. Se o homem é livre e o único responsável pelas suas escolhas e por sua própria vida, ele também é responsável pelo seu sucesso ou fracasso. Suas decisões determinarão sua própria vida. Portanto, diante das inúmeras possibilidades de escolha, o que caracteriza a condenação à liberdade, ele deve escolher somente uma, o que gera a angústia, pois se ele decide erroneamente será o único responsável pelas consequências. Tal ideia constitui o humanismo existencialista: a condição humana é de estar no mundo por conta própria, sem desculpas, assumindo os erros e as glórias como consequências das escolhas que faz. O inferno são os outros Se o homem é totalmente livre para se fazer e se determinar da maneira que quiser, seus planos podem chocar-se com os dos outros. Assim, nesse sentido, o filósofo afirma que o inferno são os outros, uma vez que os outros podem representar o empecilho para a satisfação daquilo que quero para mim mesmo.


Sigmund Freud (1856-1939)


Estruturalismo




Fundador da psicanálise, Freud levanta a hipótese de que as ações humanas não são todas comandadas pelo consciente, pelo contrário, a vida inconsciente, como na imagem do gelo submerso de iceberg, comanda a maior parte daquilo que pensamos, sentimos e de nossas ações. Ou seja, a partir de Freud chega-se a concepção de que a consciência humana não é o centro das decisões e do controle dos desejos. Desse modo, sua busca é pelas fronteiras entre consciente e inconsciente e como este atua na determinação das ações humanas. Freud dirá que diante das forças conflitantes das pulsões (que podemos entender, grosso modo, como os instintos), o indivíduo reage, mas desconhece os determinantes de sua ação. Para a psicanálise, todos os nossos atos têm uma realidade exterior representada na nossa conduta, bem como significados ocultos que podem ser interpretados. Assim o papel da psicanálise é auxiliar que o indivíduo resgate o que foi silenciado pela repressão dos desejos e alojou-se no inconsciente, mas que se manifesta na vida do homem. O prazer sexual Para Freud, a conduta humana é tipicamente conduzida pela natureza sexual do homem. A energia que preside todos os atos humanos é de natureza pulsional, denominada libido. Por libido podemos compreender a pulsão de energia sexual que se manifesta na vida psíquica humana e abrange toda e qualquer forma de gratificação ou busca pelo prazer. Desse modo, absolutamente tudo o que o homem faz busca a satisfação do desejo inconsciente natural que é a busca do prazer. Tal prazer é de origem sexual, que não deve ser compreendido como simples genitalidade, mas sim como uma busca pelo prazer em todos os atos humanos que são conduzidos pela libido. Assim, há libido investida em todos os atos psíquicos, o que permite encontrar prazer em atividades que não são primariamente de natureza sexual, por exemplo, no trabalho, esporte, arte, estudo etc. Filosofia contemporânea 8 A cultura No entanto, segundo Freud, o homem racional não é uma máquina descontrolada em busca do maior prazer a qualquer preço. Ao contrário, a cultura construída pelo homem é capaz de controlar os desejos a partir de regras de conduta morais elaboradas com o fim de tornar possível a convivência, a civilização. Se assim não fosse, os homens não passariam de animais que se confrontariam o tempo todo em busca da satisfação de seus desejos pessoais. Porém, nem sempre a regulação da sexualidade por meio da moral é saudável e consciente, pois as normas introjetadas pelo inconsciente do indivíduo impedem a decisão autônoma provocando então a repressão.

O processo de repressão ocorre quando o EGO (eu) , sob comando do SUPEREGO (super eu – cultura), não toma conhecimento das exigências do ID (isto - natureza ou força propulsora do prazer), por serem conflitivas e inconciliáveis com a moral, e por isso elas são rejeitadas, permanecendo no inconsciente. Porém, essa energia não canalizada, reprimida, volta sob a forma de sintomas, o que segundo Freud é a fonte das neuroses.



As três instâncias do aparelho psíquico




Assim, podemos compreender o aparelho psíquico do homem, da forma sistemática proposta por Freud. • ID (isto): Reservatório primitivo da energia psíquica. Seu conteúdo é inconsciente, alguns inatos e outros recalcados. É a fonte da busca do prazer e fuga da dor. • EGO (eu): intermediário entre o ID e o mundo exterior. O EGO enfrenta conflitos para adequar o ID, que contém as paixões, às circunstâncias reais por meio da razão ou consciência das normas morais propostas pelo SUPEREGO. • SUPEREGO (supereu): é o que resulta da internalização das proibições impostas pela educação, de acordo com os padrões da sociedade em que vivemos, ou seja, é a própria cultura que determina valores morais. Para Freud, a relação entre estas três dimensões é dinâmica: o ID orienta-se pelo princípio do prazer e rejeição da dor. O SUPEREGO é o que interioriza a força inibidora da moral cultural (exigência dos deveres). O EGO se encarrega de administrar estas duas forças a partir do princípio da realidade. Ele decide se é possível realizar o desejo, proibi-lo ou adiá-lo. Quando o conflito é muito grande e o EGO não suporta a consciência do desejo, este é rejeitado, o que Freud chama de repressão. Quando esta ocorre, aquela energia reprimida voltará na forma de sintomas. Tais sintomas devem ser decifrados em sua linguagem simbólica, pois é este simbolismo que exterioriza a representação indireta e figurada de uma ideia, conflito ou desejo inconsciente. Assim, o modo de encontrar a raiz dos problemas psíquicos está, principalmente, na interpretação dos sonhos que são a via régia do inconsciente. Também o inconsciente se manifesta através de atos falhos (pequenos atos involuntários que podem representar o que está no inconsciente) e chistes (gracejos feitos sem intenção de ofender ou seduzir, mas que revelam forças agressivas ou eróticas reprimidas).



Michel de Foucault (1926-1984)




As estruturas epistêmicas Segundo Foucault não há continuidade na história, dessa forma, critica a ideia trazida pelo mito do progresso, rejeitando a concepção na qual o homem ocidental pretende representar seu glorioso desenvolvimento é continuidade que não existe, que é ilusão. Para o filósofo, não existe continuidade na história, ela mesma não tem fins últimos que guiarão o progresso com vistas a este fim. Para Foucault a história é descontinuidade e a história da cultura é governada por estruturas epistêmicas, que ele denomina epistemas, que agem no inconsciente dos homens. Filosofia 9 Neste sentido, Foucault ao denominar sua filosofia como uma arqueologia quer dizer que esta tem o objetivo de compreender estes ‘epistemas’ nos quais a história se apresenta. Ele conclui, em seus estudos, que o progresso acreditava-se pelo mito do progresso não existe, não existindo qualquer tipo de progresso histórico no desenvolvimento da civilização. O que ele defende em sua arqueologia é que a história, ao contrário, é constituída de uma sucessão de epistemas que são descontínuos entre si e fazem da história algo sem um sentido que lhe dê ordem. O poder na modernidade Segundo Foucault as sociedades modernas apresentam uma nova organização do poder a partir do séc. XVIII. Tradicionalmente, o poder é entendido como proveniente do Estado em sua força repressiva sobre os sujeitos na forma de violência legítima. No entanto, na modernidade esta forma de poder é exercida de maneira muito mais sutil, criando mecanismos de dominação que pouco podem ser vistos, sendo este seu aspecto mais perverso. Para o filósofo, poder e saber caminham juntos na modernidade. O poder produz conhecimento e o conhecimento também produz poder. Desse modo, o conhecimento verdadeiro não está separado do poder. Inspirado em Nietzsche, Foucault defende que a verdade é resultado do poder e não algo desinteressado e livre. Assim, a genealogia do poder consiste em investigar a fragmentação do poder que é exercido e pode ser identificado em cada setor da sociedade, ou seja, na multiplicidade de exercícios identificados como micropoderes que estão presentes em toda a rede social. Para ele o poder macro exercido pelo Estado não é alvo de sua preocupação, mas sim o poder sutil que toma conta de toda a sociedade internamente e que passa despercebido por todos, mas que é mais efetivo e presente no dia-a-dia de todos os que dela participam. Desse modo, Foucault anuncia uma dominação intrínseca e poderosa que se estabelece no exercício de uma poder micro sobre as classes dominadas de maneira que se tende a chamar normal, uma vez que os dominados, aqueles de classes sociais inferiores, se deixam dominar por essa rede de poder quase invisível e imperceptível. A análise Foucault não está voltada para os objetivos finais do poder mas pela sua forma de exercício no cotidiano, nas ações e praticas reais e em seus efeitos percebidos nas relações humanas do dia-a-dia. Tal poder é difuso e deve ser identificados nos sentimentos, comportamentos, sonhos e interesses daqueles que são dominados.



Os micropoderes na sociedade disciplinar



Na analítica do poder o filósofo distingue o poder do Estado, que é repressivo e punitivo através da lei, do poder difuso em sua rede de micropoderes que se caracteriza por seu aspecto normativo. Nos Estados modernos observa-se a existência de uma ordem da norma que funciona por meio da pela produção de práticas disciplinares de controle e vigilância constantes. Essa ordem, estabelecido pela rede de micropoder, é muito mais eficaz que a norma estabelecida pela lei imposta pelo Estado, uma vez que esta rede de micropoder impõe sutilmente uma aceitação do indivíduo que se entende dentro desta rede. Tal ordem não quer mandar e punir, mas atua no convencimento, na aceitação do indivíduo e por isso ela é tão eficiente.





“A disciplina é uma técnica de poder que implica uma vigilância perpétua e constante dos indivíduos. Não basta olhá-los às vezes ou ver se o que fizeram é conforme a regra. É preciso vigiá-los durante todo o tempo da atividade de submetê-los a uma perpétua pirâmide de olhares. É assim que no exército aparecem sistemas de graus que vão, sem interrupção, do general chefe até o ínfimo soldado, como também os sistemas de inspeção, revistas, paradas, desfiles, etc., que permitem que cada indivíduo seja observado permanentemente”. (FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Tradução de Roberto Machado. 17.ed. Rio de Janeiro: Graal, 2002. P. 106.) Sendo um conjunto de teorias científicas e também de práticas institucionais, os procedimentos disciplinares garantem uma vigilância da sociedade, e tal vigilância é autorizada pelo saber científico. Tal vigilância é exercida não somente em locais como hospitais, escolas, fábricas e prisões, mas também nas relações entre indivíduos. Esse poder visa transformar todos os homens de uma sociedade em vigias uns dos outros. Mas, se por uma lado a maioria dos homens tende à essa normalização, também pela sua própria lógica esse mesmo poder acaba por produzir seu contrário, ou seja, a força que pode lhe fazer resistência.






E aqui se encontra a conexão entre poder e ciência, uma vez que na sociedade moderna a ciência atua como capaz de compreender todas as coisas e sobre ela praticamente não há discussão, sendo então aceita de maneira geral ela atua como normalizadora de regras de conduta que estabelece aquilo que é “normal”, consequentemente estabelecendo o que é “anormal” em relação ao comportamento dos homens, o que é verificado, por exemplo, na pedagogia e na psiquiatria. Assim, imbuídos de um conjunto de ideias que determinam o que é normal, as sociedades modernas, de maneira ‘natural’, aceita alguns comportamentos e condena outros, sendo que os indivíduos como um todo são agentes de normalização exigindo de todos e de si mesmos um comportamento adequado a tais regras próprias dos homens ‘normais’ e aqueles comportamentos que fogem desta normalidade são condenados e devem ser punidos. Aqui temos o aspecto disciplinar da sociedade moderna. “A disciplina fabrica corpos submissos e adestrados, corpos “dóceis”. A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência).” (FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1987. P. 119)

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