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Foto do escritorVinícius Costa

Aula Escrita #4: Filosofia Antiga - Parte 3

Revisão de Filosofia em Texto e Imagens!






“Esse famoso afresco de Rafael Sanzio, que orna uma das paredes do Vaticano, representa o retorno à cultura greco-latina, incentivado no Renascimento. Vários filósofos e cientistas de épocas diferentes estão reunidos nessa pintura, tendo ao centro Platão – que aponta para cima, como se indicasse o mundo das ideias, enquanto seu realista discípulo Aristóteles aponta para baixo. À esquerda, de bege, Sócrates dialoga com Xenofonte (de uniforme militar), Ésquines e Alcibíades. Abaixo, a filósofa Hipátia de Alexandria e Parmênides de Eleia. Solitário, sentado na escada, Heráclito escreve. Na mesma direção, à direita, Euclides, rodeado por discípulos, demonstra um teorema com um compasso. Ainda à direita, mais pra cima, Ptolomeu, de costas, segura um globo terrestre. Inúmeros outros personagens podem ser identificados: Zeno de Eleia, Pitágoras, Epicuro e até o próprio Rafael.”

ARANHA E MARTINS. Filosofanfo – Introdução à Filosofia Moderna. Pág 149.



1. O Período Clássico







No séc., V a.C. a Grécia, principalmente a cidade de Atenas, vivia um dos momentos mais importantes de toda a sua história. Atenas alcança o seu auge de desenvolvimento político com a concretização de uma democracia direta ou participativa, tornando-se também uma potência econômica, bélica e cultural, marcada, sobretudo, pela tragédia grega e pelo amadurecimento da filosofia. A pólis ateniense vive seus momentos de glória e abundância, de modo que se torna a cidade mais importante do mundo. Neste ambiente de uma política participativa, não há mais a prevalência de uma classe aristocrática que impõe seus interesses aos demais cidadãos, mas há a legitimação de uma política baseada na igualdade do discurso e das leis para aqueles considerados cidadãos.

Neste contexto, o antigo ideal grego de ser um guerreiro belo e bom dá lugar ao ideal de vida de ser um bom político. Isso significa que, se na democracia todos têm o direito de pronunciar seu discurso, com a intenção de convencer os demais, uma vez que as decisões sobre o futuro e as leis da cidade se concentram nas mãos dos homens e não mais dos deuses representados pelos poetas, tais decisões dependem em sua origem do discurso, ou melhor, da capacidade de o orador convencer seus concidadãos de suas ideias.

Assim, ser um bom político significa convencer os demais e, para isso, é necessário possuir a arte de falar bem, denominada retórica ou oratória. Quem fala bem, quem seduz com as palavras, quem convence, vence o discurso. Aos poucos, essa atividade torna-se a mais importante atividade de um verdadeiro cidadão que quer fazer fama com a política da cidade.

Perceba bem que a preocupação deixa de ser com a origem do Cosmos, ou seja, com a natu­reza, preocupação esta que marcou a filosofia dos fisiólogos. Agora, a preocupação torna-se a cidade, o homem e a sociedade. É nesse sentido que podemos afirmar que os sofistas e Sócrates promovem uma “guinada antropocêntrica” na filosofia, retirando os olhos dos céus, ou seja, do universo, e colocando-os na terra, ou seja, na realidade dos homens.



2. Sofistas






A palavra sofista vem do grego sophos, que significa sábio. Deste modo, os sofistas eram considerados sábios em sua época. Suas atividades eram ensinar a arte de falar, a retórica ou oratória àquele que se dispusesse a pagar por seus ensinamentos. Na verdade a crença dos sofistas era a de que a verdadeira virtude se resumia no poder de convencer, de persuadir. Desse modo, o homem que dominas­se tal arte seria virtuoso e famoso na cidade, uma vez que seria imbatível na luta da palavra, ou seja, convenceria e venceria todas as disputas orais na praça pública.

A maioria dos sofistas não era de Atenas, por isso eram pensadores ou professores itinerantes. Tal característica explica sua postura relativista: ao andarem de cidade em cidade transmitindo seus ensinamentos, eles perceberam empirica­mente que as verdades variavam de lugar para lugar, levando-os à mais importante conclusão do pensamento sofístico, o de que não existe verdade absoluta, ou seja, cada homem pode ter as suas próprias verdades, uma vez que as mesmas são sempre relativas.

Tal ideia é resumida na frase mais conhecida do sofista mais importante, Protágoras, que afirmou que “o homem é a medida de todas as coisas”. Isso significa que as ideias, o bem e mal, o justo e injusto, o certo e errado, as definições e conceitos acerca de todas as coisas dependem do homem particular, do homem privado. Cada um pode ter suas próprias ideias, uma vez que as mesmas são relativas. Desse modo, vence quem falar melhor.

Podemos resumir o pensamento sofista em quatros características:



É exatamente contra esse relativismo e a atividade de ensinar a retórica que Sócrates se apresenta como o maior crítico dos sofistas, ou mesmo, como seu maior inimigo.



3. Sócrates





A maior e mais polêmica figura de toda a Antiguidade é Sócrates. Sua história é famosa e será sempre imortalizada pela admiração que ele causa, devido à sua co­ragem e à sua coerência de morrer por seus ideais e crenças.

Sócrates é o grande inimigo dos sofistas, a ponto de chamá­-los de prostitutos do saber, uma vez que cobravam para ensi­nar. Segundo ele, as verdades estão no interior do homem e não se pode cobrar para ensinar aquilo que os homens já sabem.

Na verdade, o que Sócrates constatava em sua época é que a política havia se pervertido, uma vez que os políticos não se importavam mais com o bem da cidade, mas somente com bem e fama próprios. A política, o discurso, havia se tornado o palco para a promoção pessoal, o melhor político era aquele que convencia, que seduzia, que persuadia, sem que isso sig­nificasse a preocupação com ideias que trariam o progresso e a felicidade dos cidadãos.

Ao contrário dos sofistas, Sócrates acreditava que as ideias eram universais, isto é, que eram as mesmas para todos e em todos, uma vez que elas já nasceram com o indivíduo. No entanto, tais ideias universais, por exemplo, de justiça, apesar de estarem no homem naturalmente, estavam “adormecidas”, necessitando, portanto, de serem despertadas.

Em outras palavras, o homem já tinha em si as ideias que determinariam seu comportamento, no entanto tais ideias de­veriam ser “despertadas”, de modo que o conhecimento dessas ideias levaria à ação correta e verdadeira. A razão, conhecedora da ideia universal, determinaria a ação correta, que seria de acordo com tais ideias.

Se essas ideias estão no homem desde o seu nascimento, elas devem ser acordadas, e o método ou meio para despertar tais ideias é conhecido como ‘parto das ideias’ ou maiêutica.


a) O Método Socrático do Conhecimento

O método utilizado por Sócrates para levar os homens a encontrarem ou despertarem as ideias universais é constituído de dois passos: A Ironia (se fazer de desentendido) e a Dialética (diálogo constituído de perguntas e respostas com o objetivo de levar o interlocutor à contradição e ao reconhecimento da própria ignorância, ou seja, ao reconhecimento de que não se sabe aquilo que se acreditava saber).

O objetivo é retirar o homem do mundo da opinião (doxa) e levá-lo ao conhecimento verdadeiro (episteme).

O problema de Sócrates em relação ao seu contexto histórico e ao papel dos sofistas era que estes, ensinando somente a arte da retórica e da oratória – meio pelo qual se defendem as ideias –, não buscam a verdade, mas somente a fama daquele que vence todos os discursos. Para o filósofo, a política da cidade deveria buscar as verdades que orientariam as ações de todos os homens.

Podemos resumir, assim, o pensamento socrático em quatros características:




b) A pesquisa Socrática

Em seus diálogos, Platão (Sócrates não escreveu absoluta­mente nada o que faz muitos pesquisadores defenderem a tese de que Sócrates possa não ter sido um personagem histórico, mas sim um álter-ego de Platão) narra, no diálogo Apologia de Sócrates, como surgiu a missão socrática.

Um amigo de Sócrates fora consultar o Oráculo de Delfos e perguntou quem era o homem mais sábio de Atenas. Sur­preendentemente, o Oráculo respondeu que era Sócrates. Ao saber do ocorrido, Sócrates decide fazer uma pesquisa para descobrir o motivo pelo qual era considerado sábio. Vai então àqueles que eram considerados, tinham fama de serem os mais sábios de Atenas (poetas, artesãos e políticos). Em sua conversa com estes homens descobre que os que pensam que são sábios não o são verdadeiramente, isso exatamente porque todos acreditam que sabem tudo sobre suas artes. Sócrates compreende o que o oráculo quis dizer ao afirmar que ele era o mais sábio entre todos: a verdadeira sabedoria consiste em saber que não se sabe nada, ou seja, aquele que acredita que sabe tudo não pode conhecer mais nada, porém aquele que reconhece a própria ignorância pode buscar o conhecimento sobre as coisas.

Nesta pesquisa, que perdurou toda a vida de Sócrates, ele levava seus interlocutores à contradição, conseguindo então os mais perigosos inimigos da cidade. Estes, quando Sócrates já tinha 70 anos de idade, o acusam de corromper a juventude com suas ideias e de impiedade (não crer nos deuses da cidade). E, injustamente, Sócrates é condenado à pena capital.


3. Platão





Platão é um dos pensadores mais importantes de toda a história do ocidente. Suas ideias são as bases filosóficas que sustentam a política, as ciências e a vida em sociedade até os nossos dias. Há quem defenda, inclusive, que Platão e Aristóteles escreveram sobre tudo o que havia para ser escrito e que depois deles tudo é “página de rodapé” de suas ideias.

Pertencente à aristocracia ateniense, Platão torna-se o dis­cípulo mais importante de Sócrates. Segue suas ideias, mas não para nelas. Platão tem como preocupação principal a busca da verdade sobre todas as coisas e procura definir o caminho para alcançar tais verdades.

Didaticamente, podemos dizer que Sócrates se preocupa em encontrar as ideias universais em relação às ações humanas, aquelas que determinariam como o homem deveria agir (por exemplo, o que é justiça, para que o homem agisse de acordo com esta ideia). É exatamente por isso que Sócrates é conheci­do como o pai da ética. Já Platão avança, defendendo que existem ideias universais que determinam a moral e tudo que existe, ou seja, sobre todas as coisas existe uma verdade que deve ser buscada, que constitui o conhecimento verdadeiro sobre o ser.

Para ambos, o homem não pode se contentar com a doxa, ou seja, com simples opiniões, uma vez que estas são variáveis e não dizem o que os seres são verdadeiramente. Ao contrário, o homem deve alcançar a episteme, ou seja, o conhecimento verdadeiro sobre todas as coisas. Para ambos existe uma verdade universal, única e eterna que deve ser alcançada pela razão ou pelo pensamento e nunca com ajuda dos sentidos.


a) A Teoria dos Dois Mundos

Uma das ideias mais importantes da filosofia de Platão é a teoria dos dois mundos. Nela Platão deixa claro a sua epistemo­logia, ou seja, sua teoria do conhecimento, que explica como o homem pode alcançar as verdades sobre todas as coisas. É por causa dessa teoria que se considera Platão como o fundador da metafísica (aquilo que está para além da física, do mundo material e físico, ou seja, a busca pelas essências).

Platão dirá que existem duas realidades distintas:

a) Mundo Inteligível: imutável, perfeito e eterno, denominado tam­bém de mundo das formas ou ideias, onde estão as essências dos seres.

b) Mundo Sensível: mutável, imperfeito e perecível, o mundo real, onde estão as coisas materiais que constituem uma cópia imperfeita da ideia perfeita do mundo das ideias. Neste mundo sensível o que existe são apenas as aparências ou sombras das ideias do inteligível.


Platão fala do Demiurgo, uma espécie de semideus responsável por criar o mundo sensível da matéria disforme, tomando como modelo as ideias do mundo inteligível.

O mais importante é que, para que o homem alcance o conhecimento verdadeiro dos seres, ele deve reconhecer que o mundo sensível, apesar de importante, não contém a verdade. Ou seja, o conhecimento verdadeiro só é possível de ser conhecido se o sujeito reconhecer que as coisas do sensível são cópias e buscar, elevar sua alma, dirigir seu olhar e sua intelectualidade ao mundo inteligível, buscando conhecer tais ideias que constituíram a verdade dos seres.



b) A Alegoria da Caverna





A imagem mais famosa de Platão, sem dúvida, é o Mito da caverna. Nele o filósofo quer mostra ou explicar, de maneira alegórica, sua teoria do conhe­cimento. O conto diz que homens vivem acorrentados dentro de uma caverna, acor­rentados pelos pés, mãos e pescoço, de modo que a única coisa que podem enxergar é a parede da caverna na sua frente. Nela são refletidas sombras de seres e objetos que passam atrás do homem. Como eles só viram tais sombras durante toda a vida, eles tomam essas imagens como se fossem as coisas mesmas. Por fim, um dos prisioneiros consegue se libertar das correntes que o prendiam na caverna e sair daquele lugar, conhecendo o mundo verdadeiro, que é fora da caverna. Consegue compreender gradativamente que tudo o que ele viu durante a vida dentro da caverna não passava de ilusões, de modo que o conhecimento verdadeiro só é possível fora da caverna, onde ele enxerga as coisas em si mesmas. Quando ele sai da caverna, tem os olhos ofuscados pela claridade, demonstrando que o primeiro contato com a verdade é assustador e incômodo, uma vez que tem de abandonar todas as suas antigas crenças. Tendo conhecido a verdade, ele volta ao interior da caverna para dizer aos seus antigos companheiros que tudo o que eles viam não passava de ilusão; no entanto, tais companheiros não o ouvem e preferem ficar presos àquilo que para eles era considerado “normal”.

O conhecimento da verdade só é possível se o homem busca tais verdades na realidade superior que seria o mundo inteligível. No en­tanto, o homem deve compreender que, para conhecer, é necessário um processo de saída da doxa (opinião) rumo à Episteme (conhecimento verdadeiro) e tal caminhada depende da decisão e do esforço do homem.


d) Teoria da Reminiscência da Alma


Para Platão, o homem é dividido em duas partes ou dimen­sões, que são o corpo e a alma.


O corpo constitui a parte material do ser humano, nele estão os sentidos que permitem o contato com o mundo. Apesar de importante, o corpo, os sentidos (tato, olfato, visão, audição e paladar), a experiência, não servem como fonte do conhecimento verdadeiro. Eles nos dão acesso somente às aparências dos seres e não à sua verdade ou essência. So­mente a alma, a razão, é que permitem ao homem conhecer a verdade dos seres buscada no mundo inteligível,



A palavra reminiscência significa lembrança. O conhecimento não é construído pelo homem, mas lembrado, relembrado. Segundo Platão, a alma, antes de encarnar em um corpo material, já estava no mundo inteligível, em contato com as ideias inteligíveis. Quando da encarnação, a alma passa por um processo de esquecimento, o que significa que o conhecimento das ideias ainda está dentro do homem, mas esquecido. Dessa forma, conhecer é somente lembrar-se dessas ideias com que a alma já teve contato no inteligível. Platão utiliza o Mito de Er como imagem para explicar tal ideia.

O mito de Er narra a história do pastor de ovelhas Er, que foi levado ao mundo inteligível. Chegando lá, Er observa como as almas contemplam as ideias inteligíveis. Em um determinado momento, quando chega a hora de a alma encarnar, ela é levada ao rio do esquecimento (Lethé). Aquelas almas que querem conhecer a verdade bebem pouca água deste rio, aquelas que querem ter uma vida de prazeres e satisfação de seus desejos bebem muita água do rio. Desse modo, quando encarnam, as almas que beberam pouca água recordam com mais facilidade das ideias inteligíveis, aquelas que beberam muita água se recordarão com muito mais dificuldade destas ideias.


e) Teoria da Tripartição da Alma



A teoria da tripartição da alma diz que o homem tem três partes ou dimensões na alma. Cada parte é responsável por uma atividade ou aspecto da vida humana.

I. A parte racional: é responsável pelo pensamento e seria a responsável pela verdade.

II. A parte emocional: ou irascível é responsável pelos sentimentos nobres como honra e justiça.

III. A parte sensual: ou apetitiva é responsável pelos desejos e necessidades naturais, como fome, sede, prazeres e desejos imediatos.


Para alcançar a felicidade individual, o homem deve ordenar, estabelecer uma hierarquia entre as partes da alma: a razão deve dirigir a vida humana, governando os desejos e prazeres sensuais. A parte irascível ajudaria a parte racional a controlar a sensual.

O que Platão quer dizer com essa teoria, que está explicada no mito do Cocheiro, é que a razão deve ser a grande guia da vida humana.

No mito do cocheiro, Platão utiliza da imagem de um cocheiro guiando sua carruagem puxada por dois cavalos, um bom e obediente e outro mau e desobediente. Para alcançar o seu destino, o cocheiro precisa conduzir adequadamente sua carruagem e, para isso, precisa dominar os cavalos e fazê-los conduzir a carruagem na direção certa. Acontece que, apesar de o cavalo bom ser obediente às ordens do cocheiro, o cavalo mau é desobediente e, por isso, deve ser dominado. Assim, a parte racional é representada pelo cocheiro. A parte irascível pelo cavalo bom e a parte apetitiva pelo cavalo mau, que deve ser dominado.

No entanto, tal controle não é fácil: o homem deve estabelecer uma luta contra si mesmo, vigiar-se para que os desejos não superem a razão.



F) A Política de Platão




Platão também se preocupou com a política, ou seja, com o como a cidade deve ser governada para que todos os cidadãos alcancem a felicidade.

Tal como a alma, a cidade também é dividida em três classes:

I - Governantes: deveriam administrar a pólis = corresponde à parte racional da alma.

II - Guerreiros: deveriam proteger a cidade e garantir a aplicação das leis = corresponde à parte irascível da alma

III - Povo: responsável pelo serviço braçal na cidade, ou seja, pela produção de bens para a subsistência da cidade = corres­ponde à parte sensual, que deve ser controlada, dirigida pela parte racional.

Platão defende um sistema aristocrático, em que o governante deveria ser o filósofo (Reis-filósofos), uma vez que estes seriam os mais preparados, por já terem alcançado as ideias inteligíveis e, portanto, sempre fariam leis justas para a cidade.


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