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Foto do escritorVinícius Costa

Filonema#1: MATRIX - em Poucos Versos.

Matrix, o Poderoso Chefão da geração millenium , inaugurou a discussão filosófica sobre o poder dos algorítimos nas decisões humanas. Mais atual que nunca, a obra revisitada ganha cada dia mais importância, por suas discussões e metáforas filosóficas e religiosas.



Em 1999, eu tive a primeira experiência com Matrix ao ler, na parte dedicada a cultura nas páginas finais da revista Veja, sobre as filmagens de um novo longa de Keanu Reaves que prometia revolucionar as filmagens no cinema. Ali, antes do filme sair, senti que vinha algo especial. E aguardei ansiosamente o dia que o filme chegaria ao cinema. E chegou.


A genialidade Wachowski

É genial o que as irmãs ( na época irmãos) Wachowski fizeram. Trouxeram a maior discussão filosófica e religiosa de todos os tempos em uma linguagem científica e ficcional.

Infelizmente, a grandiosidade de Matrix talvez seja somente compreendida em absoluto, não nesse tempo histórico ( apesar de que o entendimento sobre o uso do algoritmo nas redes sociais, e como as escolhas são moldadas, pode ajudar bastante a reduzir essa distância temporal da obra feita e a sua compreensão no senso comum). Afinal a Big data está mais ativa do que nunca determinando decisões política e econômicas.


A Trilogia, como um todo, é uma obra prima. Ninguém chegou tão perto de clarear e transpor a existência de Deus ou da relação determinismo/ livre arbítrio para uma linguagem simples como os filmes das irmãs Wachowski. Torço que as pessoas compreendam a trilogia e espero ajuda nisso com este post . Seria compreenderem-se a si mesmas, também. Quem sabe um dia poderemos finalmente sair da caverna de Platão sugerida de maneira mais evidente na obra como metáfora principal.


Para entender a discussão do filme que proponho vou dividir meu raciocínio em duas partes, do mais simples ao complexo - do literal do filme ao simbólico. Como aprendido nas aulas de Teologia, faremos, primeiro, a "exegese"do filme para depois realizar a "hermenêutica"!



A) A obra em sua literalidade -simplicidade:


1. As máquinas em sua personificação racional, o Arquiteto, pensam de forma binária( raciocínio booleano na linguagem computacional: 0 e 1).


2. As máquinas que comandam o mundo( somos apresentados pelo olhar de Morfeus a ideia de que elas tomaram o poder e Zion é a resistência, mas não sabemos se isso é verdade). Fato é que o poder está SEMPRE na mãos da máquinas.


3. As máquinas criaram a primeira versão de Matrix que deu errado porque aplicaram aos humanos dominados sua visão binária. Era um sistema perfeito mas os humanos não o aceitaram por não ter dores e guerra, por não ter tons múltiplos dentro do binarismo.


4. O Arquiteto, parte racional das máquinas, criou a segunda versão da Matrix justamente com conflitos. Mas a imposição da guerra tb foi rejeitada pelos humanos pois veio de cima e não das escolhas humanas e o sistema falhou. ( as Maquinas não compreendiam em seu binarismo o que fazia o ser humano tomar decisões).


5. Um programa de análise comportamental não binária então foi criado: o Oráculo. De característica intuitiva buscava traçar um perfil comportamental humano e prever sua reações ( alô big data!). Esse programa percebe que a ação humana não binária é construída pelo seu processo de socialização. Dessa forma o ser humano não é lógico como as máquinas. O arquiteto entende tal processo ( em seu raciocínio binário ) como uma anomalia do sistema da matrix.


6. Como o oráculo percebe que as escolhas vem da socialização ( experiências, costumes, cultura) ele deduz que o ser humano não tem livre arbítrio e nem escolhe livremente. Suas escolhas são reflexos de suas vivências. Não existe liberdade para o ser humano assim como para as máquinas, mas os seres humanos precisam acreditar que são Livres.


7. O Oráculo percebe, então, que se conseguir controlar os valores das pessoas seria possível prever as ações humanas, prever o futuro e ,dessa forma, garantir que a escolha funcione em favor das máquinas. Se as pessoas optarem, mesmo que no subconsciente, a manterem a ilusão da matrix por "decisão" própria o programa se manterá bem como todo o sistema.


8. 99 % da população compra essa ideia, mas aquele 1% é vagabundo. Afinal as crenças e costumes orientam, mas nem sempre em todos os casos, determinam a ação humana. O humano é complexo o bastante pra além de não ser binário, às vezes ser... irracional.

9. Para esse 1% que continuou rejeitando a Matrix, mesmo podendo fazer escolhas dentro do sistema, foi criado um novo programa: Zion ( esse é um grande segredo do filme que tem gente que não pega - Zion é um programa dentro do programa, não o mundo real do seres humanos. Em zion vc pode rejeitar o programa da matrix original. É o lugar pra seres mais rebeldes e ou conscientes. Mas que não percebem que ainda são controlados. E lá que algumas memórias são plantadas. Onde Morfheus acredita na ideia de Adão"- o primeiro homem que se libertou do controle das máquinas. É lá tb que existe a fé de que se pode destruir o sistema. Fé essa que impede de os moradores perceberem que sua liberdade é relativa: maior que do programa original de onde eles entram e saem, mas ainda preso sutilmente as máquinas.


10. O problema pras máquinas com Zion era manter a população dos rebeldes em 1% pra que o sistema funcionasse. Afinal se muitos fossem para o programa de aparente liberdade o programa central entraria em colapso e tudo voltaria à estaca zero.


11. Dessa forma criaram um programa pra prever através de análises de causaualidade às escolhas humanas: esse programa original chama-se, no filme dois, Merovíngio. O algoritmo merovíngio, como nossas redes sociais de agora simularia, as decisões humanas a partir dos dados coletados pelo Oráculo e com isso poderia prever os seres que teriam tendência de buscar Zion.


12. O programa se torna obsoleto todavia quando sua característica de analisar as ações humanas é implantado no programa que analisa os humanos: o oráculo . Assim o oráculo conhece os humanos e suas decisões futuras. Os controla mais plenamente. Merovingio, o grande rival do Oráculo, se torna obsoleto, mas ao invés de aceitar ser destruído( como todas máquinas que perdem sua utilidade) se rebela contra o arquiteto para manter sua sobrevivência, escondido na programação da Matrix, usando de sua capacidade de analisar dados como um traficante de informações. Um malfare dentro do sistema. Não existe função para Merovingio. Mas ele sobrevive no e pelo sistema.


13. Zion não é páreo para as máquinas o que faz os humanos que lá habitam se sentirem desestimulados, o que pode fazer o programa entrar em colapso. Para lhe dar esperanças é criado um programa salvador que teria a habilidade de destruir as máquinas: Neo.


14. Para que funcionasse, esse programa precisaria ter auto consciência de humano. Nunca desconfiasse de sua real natureza divina..rs ou melhor maquinária. E ter natureza humana seria dar o poder ao escolhido de... tomar decisões! Neo é uma máquina que pode fazer escolhas. É um híbrido- meio humano meio máquina. Programa criado pelas máquinas mas com a essência humana da liberdade.


15. O escolhido todavia, conduzido pelo Oráculo, precisava sempre no momento decisivo fazer a escolha certa: a escolha das máquinas. Com o algorítmo sendo agora o Oráculo criado, seria possível assegurar disso. A intenção das máquinas, como o Arquiteto revela, é manter a estabilidade do sistema garantido que os humanos de Zion nunca ultrapassem o 1 por cento populacional que rejeita a Matrix oficial. Na hora certa, o escolhido deveria tomar a decisão certa de salvar apenas 16 mulheres e 7 homens e deixar zion ser destruída pra que o sistema se reiniciasse com o controle populacional devido. O arquiteto mostra pra neo que ele já tinha cumprido esse objetivo 6 vezes anteriormente e que essa sétima seria apenas mais uma de sua função como máquina .


16. Se Neo não fizesse essa escolha a humanidade desaparecia com o bug das máquinas e, como ele acredita ser humano, mas também como o seu programa tem visões da causaulidade( ele enxerga o futuro de trinity por exemplo) as máquinas garantem que ele sempre faça a escolha certa: a de destruir Zion pra salvar a humanidade.


17. Tudo estava perfeito pras máquinas até, no processo cíclico temporal que o filme se situam ocorrer uma rebeldia maquinária( do tipo do Merovingio) chamada Agente Smith. Ao enfrentar o programa, Neo, no primeiro filme, derrota o Agente Smith e deve ser descartado, mas este resolve se esconder como um worm no sistema. Ao entrar em contato com Neo em luta, Smith absorve a causalidade e entende que sua função é ser desativado, mas recusa isso. Smith não é um perigo pra Neo. Ele passa a ser um perigo pras máquinas. Smith, afetado pelo escolhido, poderia fazer uma coisa que Neo não podia por seu apego a humanidade: deixar o sistema implodir destruindo humanos e máquinas.


18. A razão , a fonte das máquinas entendendo o perigo smith ( final do filme 3), negocia, então, com Neo. Adia a destruição de zion naquele momento final, se Neo se entregar em sacrifício. Como o Smith é o simulacro do escolhido, sabe que se neo se entregar destrói o vírus smith. Ambos já estão contaminados um do outro e smith só sobrevive em função da energia de Neo que o inundou. Pela primeira vez, assim , Zion é salva. Mas as máquinas tb. Neo é recolhido pra ser atualizado pra uma nova versão do escolhido. O vírus smith é destruído . Arquiteto e oráculo comemoram a sobrevivência do sistema no final do filme. Pela primeira vez a Matrix se viu ameaçada. Ainda bem que o amor do escolhido pelo humanos fez Neo sacrificar -se. Acreditava que pelos humanos. Mas cumprindo o desejo da máquinas e as salvando prioritariamente.


A seguir vou interpretar o simbolismo que essa história tem na filosofia e religião. Essa é a história literal. Os simbolismos são maravilhosos sem bem vistos a partir do cristianismo e dos filósofos de tendência racionalistas como Platão. e Agostinho.


p.s. Essa síntese é uma soma da minha análise do filme com outras boas análises disponíveis pela internet. Quem quiser procurar vai ver muito coisa nesse sentido literário da história na net. A próxima parte , que é a interpretação dessa história, é o que faz Matrix ser a obra prima que tento demonstrar.


B) O Simbolismo Religioso de Matrix.


Esse texto é uma simplificação do tema ainda para iniciar a discussão... Não é um mestrado na área...Ma seria legal se fosse!

1. Pra pensarmos religiosamente, vamos entender as máquinas como o Absoluto e os humanos aqueles que vivem na dimensão Relativa do mundo. 2. Deus ( nome religioso pra representar o Absoluto - a Máquina no caso de Matrix) ao criar o sistema para a vivência de sua criação criou um sistema perfeito. Em linguagem religiosa: o Paraíso. Todavia, os primeiros humanos rejeitaram viver lá pois sentiam -se tolhidos de poder escolherem. Só o bem não adiantava. Eva escolhe liberta-se do Paraíso, bem como a humanidade, ao comer a maçã. 3. Deus então oferece um segunda possiblidade de mundo onde haja a destruição e o caos. A Gênesis bíblica mostra esse mundo nas ações de Caim e Abel até a Arca de Noé. Os humanos tb não aceitam viver num mundo que a destruição reina per si e resolvem fazer novas escolhas, agora contrárias à primeira, em busca de paz (Noé). 4. O pensamento do absoluto divino, que é binário por natureza, começa a investigar o homem pelas eras e percebe que o ser humano é apegado não há uma determinada escolha, mas ao ato de escolher ( é a faceta oráculo das máquinas na oniciencia de Deus). 5. Vendo que não pode escolher por sua criação, Deus percebe que pode orientar tais escolhas através da socialização. Alguns programas são mandados pra orientar essa socialização pra que as escolhas humanas , aparentemente livres, sejam guiadas pelo código moral divino ( Moisés por exemplo molda a cultura judaica pra orientar as decisões sobre o que é certo direcionando as escolhas da sociedade). 4 inconscientemente, então, a sociedade passa a viver com relativa tranquilidade já que as escolhas "livres" humanas estão seguindo a diretriz da máquina: Deus. 5. Uma parcela todavia da população, mesmo com o código moral judaico, rejeita os mandamentos. Mesmo percebendo a racionalidade dos processos e escolhendo livremente, faz escolhas de forma irracional. É preciso, assim, que Deeus amplie a Matrix para além dos judeus. Mas tem que ser num nível mais sutil. É preciso pra o sistema se manter de pé que as escolhas humanas sejam feitas tb por quem tá rejeitando o sistema matrix primário: no caso religioso, o judaico. 6. Assim, o cristianismo surge com a função de levar pra fora do judeu uma cultura que molde as escolhas humanas de acordo com o desejo da máquina: Deus. 7. É preciso ter esperança em um messias: Neo. The one. O um. O escolhido. Essa todo mundo pega né ? Jesus. 8. Jesus é essencialmente divino como Neo é essencialmente um programa, mas se difere do absoluto pelo amor a humanidade e por ter nascido ( encarnado) e poder realizar escolhas. 9 Jesus\neo precisa tomar as decisões e se sacrificar pela humanidade. De tempos em tempos precisa renovar o quadro relativo pra que o mundo se torne equilibrado. 10. Jesus tem a causalidade divina de saber o futuro e o amor de querer preservar a humanidade. Assim como Neo. 11. Um programa de origem divina/ maquinaria, todavia, torna-se ameaça. Um anjo cai do céu ao entrar em contato com a relatividade: mamon, diabo, demônio ou Agente smith, como queiram. 12. Criado pelo divino, e entendo a causalidade quando entra em contato com Cristo, o coisa ruim torna-se um perigo não só pra humanidade, mas tb pro absoluto já que ele conhece em essência a programação original de Deus. 13. Jesus então como cordeiro se sacrifica pra que destrua o mal e o pecado com sua ação na cruz, garantindo a sobrevivência de Zion ( nós, resistentes a dominação divina), mas destruindo ao mesmo tempo o mal ameaçador - nas igrejas evangélicas e em liturgia católicas é muito comum a imagem de que o sacrifício de Jesus acabou com o mal no mundo pelo simples ato do sacrifício. 14. Ainda existem programas infiltados como Merovingio que vivem no mundo relativo, tem conhecimento espiritual e trafica informações sobre a verdade. São os fugitivos de deus : conhecem a lei, mas não exercem. Em linguajar religioso, anti cristos. 15. O sacrifico de Jesus-Neo dá tempo a Zion, mas, como no filme, não sabemos até quando Deus-Máquina permitirá prorrogarmos o nosso juízo final. 16. O amor de Neo pelos humanos é personificado em trinity ( a trindade - máquina, Escolhido, energia que os liga, bem com em Deus, Jesus e o Espírito Santo). 17. As seis vezes que o escolhido passou na terra é entendida pela simbologia mística da cabala. Não significa o número real. Mas sim o ciclo de vezes que Jesus( neo ) cumpriu os desígnios divinos até vir pra terra e se entregar em holcausto destruindo o demônio e mantendo o absoluto divino intacto. 18. Morfheus na condução de sua nave Nabuconosor representa os profetas anunciantes de Cristo: João bastista, Elias. 19. Vivemos como pássaros em gaiolas nesse nível da Matrix. Alguns subconscientemente aceitando sem questionar, outros estando no estado mental de Zion. Mas como preconiza a religião cristã, paradoxalmente, ser livre é se entregar as máquinas como Neo-Cristo, em posição de cruz no final de Matrix, faz se entrega a Deus. Toda outra liberdade é relativa é ilusória. 20. Deus em seu absoluto é uma grande máquina a qual estamos "aprisionados" em seu sistema. Infantilmente como humanos buscamos a resistência por querermos ser livres. Isso já é melhor do que viver cegamente preso a essa máquina sem consciência ( a matrix da primeira camada). Mas querer fugir dela pra vivermos em pleno livre arbítrio seria impossível. p.s. Agostinho ficaria feliz de assistir Matrix.

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